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                                 Observatório de Saúde e Trabalho no Agronegócio                            

Intoxicação de trabalhadores da JBS do Pará expõe problema estrutural nos frigoríficos do país

Plantas industrias da cadeia de frios enfrentam crescimento no número de acidentes: de 5 em 2015 para 22 em 2023

Acidente com vazamento de amônia em frigorífico no município de Iporá, Goiás (set/2023)

No dia 22 de abril de 2024 um acidente envolvendo vazamento de gás amônia causou a hospitalização de 17 trabalhadores da companhia JBS na unidade de Marabá, no estado do Pará. Um acidente semelhante já havia ocorrido em junho de 2023, causando a internação de 42 trabalhadores. 

O sucateamento dos sistemas de detecção e negligência das empresas na prevenção de acidentes podem estar nas causas do crescimento no número de acidentes envolvendo amônia em frigoríficos no Brasil.

Acidentes e vazamentos de amônia em frigoríficos e plantas da cadeia de frios no Brasil - 2023

No mapa interativo abaixo é possível visualizar a dispersão de acidentes ao longo do ano de 2023 no Brasil:

Acidentes com intoxicação por amônia crescem 5 vezes no Brasil em 2023

um acidente com vítimas a cada 17 dias

O ano de 2023 registra um número inédito de acidentes envolvendo vazamentos de amônia em frigoríficos no Brasil, ao todo 22 acidentes no ano. A JBS lidera casos, com dois acidentes na unidade de Dourados no Mato Grosso do Sul, em março e maio de 2023; um na unidade de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro em maio; um na unidade de Marabá, no Pará em junho e acidentes nas unidades de Sidrolândia no Mato Grosso do Sul e Andradina em São Paulo, ambos em dezembro.

Acidentes e vazamentos de amônia em frigoríficos e plantas da cadeia de frios no Brasil (2023)

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Fonte: ObAgro, 2024

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Trabalhador de frigorífico com queimaduras por exposição à amônia.

De acordo com o perito o perito em Engenharia de Segurança do Trabalho do Ministério Público do trabalho (MPT) Fernando Alves Leite, estes números estão ainda muito longe de refletir a realidade dos frigoríficos no Brasil. O perito, que atua com segurança do trabalho há quase 10 anos, afirma que todo dia há um vazamento em alguma unidade do país, cada vez com mais com vítimas, em alguns casos, fatais.

O extraordinário número de casos, envolvendo centenas de trabalhadores intoxicados e que necessitam de atendimento médico, aponta para uma precarização nos investimentos em prevenção de acidentes e na própria política de manutenção das fábricas pelas empresas, colocando a vida dos trabalhadores em risco de forma reiterada.

 

Vazamentos de pequenas dimensões de até 10 ppm (partes por milhão) podem passar despercebidos, apesar de terem potencial para causar irritação nos olhos e irritação na garganta. Acima desse patamar os danos podem ser graves, com queimaduras na pele, olhos e no pulmão. A depender do nível da exposição, alguns minutos podem ser fatais.

JBS liderando o pódio

Em 2020, o jornalista Daniel Giovanaz, em matéria publicada pelo Brasil de Fato, já havia destacado o histórico recente de empresas como a JBS em relação aos acidentes com amônia, contabilizando 10 acidentes entre 2014 e 2020 somente em plantas da JBS, afetando mais de 300 trabalhadores.

Acidentes envolvendo vazamento de amônia podem acontecer por diversas razões. Em busca de consolidar um sistema de prevenção de acidentes envolvendo amônia, foram criadas as Normas Regulamentadoras, como a NR 36, que dentre seus temas, trata também da amônia.

No entanto, o não cumprimento das diretrizes das Normas pode levar a acidentes. As normas obrigam a instalação de sistemas de proteção a acidentes com vazamento de amônia, dimensionados de forma apropriada e em perfeito funcionamento.

Os sistemas de refrigeração que utilizam gás amônia devem funcionar sob um nível de pressão específico e devem ser operados por trabalhadores qualificados para exercer esta função.
Também a presença de fissuras em válvulas e tubulações, decorrentes da falta de manutenção, pode levar a acidentes graves.

Estruturas enferrujadas, com soldas em áreas inapropriadas ou até a realização de manutenções durante a jornada de trabalho dos frigoríficos estão entre os fatores que contribuem para a ocorrência de acidentes.

Entre as medidas de proteção para evitar acidentes com amônia, destacam-se:

1. manutenção das concentrações ambientais aos níveis mais baixos possíveis e sempre abaixo do nível de ação, por meio de ventilação adequada;

2. implantação de mecanismos para a detecção precoce de vazamentos nos pontos críticos, acoplados a sistema de alarme;

3. instalação de painel de controle do sistema de refrigeração;

4. instalação de chuveiros de segurança e lava-olhos;

5. manutenção de saídas de emergência desobstruídas e adequadamente sinalizadas;

6. manutenção de sistemas apropriados de prevenção e combate a incêndios, em perfeito estado de funcionamento;

7. instalação de chuveiros ou sprinklers acima dos grandes vasos de amônia, para mantê-los resfriados em caso de fogo, de acordo com a análise de risco;

8. manutenção das instalações elétricas à prova de explosão, próximas aos tanques;

9. sinalização e identificação dos componentes, inclusive as tubulações;

10. permanência apenas das pessoas autorizadas para realizar atividades de inspeção, manutenção ou operação de equipamentos na sala de máquinas.

 

Todos os acidentes com amônia envolvendo trabalhadores devem ser investigados pelos órgãos competentes como Ministério do Trabalho, CEREST e Ministério Público do Trabalho, com o prejuízo do dano coletivo devidamente reconhecido, readequação das instalações, e com empresas responsabilizadas de forma exemplar, como forma de prevenção efetiva.

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